Bliss

Não sei bem se gosto de fim de ano. É sempre esse amontoado de gente se espremendo, fazendo compras e todo mundo te desejando feliz natal e tudo de bom —desejar por desejar. É essa coisa de ser solidário e essa chuva que não pára.

Sou cheia de comentários ácidos nessa época, não é por mal, é por tristeza; um incômodo angustiante. Bah. Passa, tudo passa.

Gosto mesmo é de meio de ano, depois que passa o verão, essas festas, essa obrigação de ser feliz e comparecer às festas. Meio de ano é bom, pois já se está de volta ao ritmo como o ritmo verdadeiramente é. Meio de ano é bom, pois é bom ficar romantizando as férias que ainda estão longe de vir. É bom ficar imaginando o que vai querer e o que vai fazer. Essa ilusão de futuro é boa. Ignorance is bliss.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Forca Feeling

Forca Feeling
- Rebecca Albino


É melhor escrever logo enquanto a censura “permitir” ou pelo menos enquanto os “homi” não entram aqui e saiam apagando post afora. Trato aqui sobre o último assunto polêmico entre, nós, os internautas: a aprovação da lei elaborada pelo Senador Eduardo Azeredo. Com ela, Azeredo pretende eliminar da rede a pedofilia, mensagens de apoio ao racismo, proteger trabalhos acadêmicos e diminuir o fluxo de vírus.

Nem tudo são flores...

O problema é que, além de estarmos sob vigilância, causando já uma sensação estranha de dèjá vu, a lei foi escrita de uma forma tão ampla e tão subjetiva, que, no fundo, somos todos criminosos e, como tais, estamos sujeitos a anos de prisão (algumas penas são de dois anos). Até separarem o joio do trigo, já se foram muitos condenados.

Quando começo a dissertar sobre um comercial (ultimamente meu alvo preferido vem sendo a campanha, digamos, dançante de um banco), geralmente digo: “Não sei quem é pior: quem cria ou quem aprova.” Hoje não falo a respeito de um comercial, mas a frase se encaixa perfeitamente. Ora, minha gente, sejamos francos: de movimentos contra a Internet já temos os programas de televisão — julgo desnecessário citar um em particular, fã de carteirinha dessa prática, mas darei apenas uma dica, afinal, tem-se que tomar cuidado com o que se diz nas datas atuais: é exibido todo Domingo.

No mais (entrando aqui no modo revoltado), assim como cientistas que passam anos pesquisando, para um dia anunciarem que o chocolate trás uma boa sensação, parecem não saber que há o câncer para se descobrir a cura, será que o parlamento não tem nenhuma questão mais urgente para se discutir? Talvez uma roupa para lavar? Segue uma lista das primeiras sugestões que me ocorreram:

- Investimento nas ciências exatas, na cultura e na educação, em geral;
- Melhor distribuição de renda e geração de empregos;
- Investir na saúde, no planejamento familiar, no saneamento básico e na moradia;
- Melhorar a qualidade da segurança, na preparação de profissionais e na infra-estrutura;
- Conciliar a preservação do meio-ambiente e o avanço tecnológico;
- Etc.

O sentimento na prática


Esta semana, ao me cadastrar em um fórum, fui advertida a respeito de algumas regras impostas pelos moderadores para que meu passaporte para a comunidade fosse efetuado. Ótimo, prossegui apertando no OK, crente que seria mais um daqueles enormes textos que ninguém lê, mas diz que lê, aperta o OK e pronto. O que veio a seguir, porém, foram apenas algumas frases que me diziam para ter cuidado com o que digo, quem eu cito, o que quero dizer, etc. Tudo terminava com um “... será expulso”, que me aterrorizou, como no primeiro dia de aula quando uma professora muito séria e com cara de má diz que será inadmissível a conversa dentro de sala. Senti-me como o pobre bonequinho da forca: magra feito aqueles palitinhos, fraca como o grafite que risca o papel, temendo que uma letra mal escolhida resultasse em uma lança atravessada no meu pescoço., denunciando meu fim. Sinceramente, deixei a tela da última etapa de cadastro do fórum minimizada por muito tempo, pensando: “Aderir ou não aderir? Eis a questão...”


Leia:

“1984” – George Orwell;

Xô Censura! — procure pelos blogs participantes da campanha.

Assine:

Petição contra o Projeto de Cibercrimes



- O dia 19 de julho foi escolhido por representar o dia em que o jornal O Estado de São Paulo publicou receitas e poemas de Luiz de Camões no lugar das matérias censuradas no ano de 1972. -

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Como todos

Era uma vez um sujeito que, de muitas idéias que tinha, um dia resolveu se reinventar. Pegou uma parte dali, outra de lá. Disse que não mais ia ficar quieto esperando que os outros o percebesse — a partir daquela data seria diferente. Falaria com todos, os cumprimentaria e se alguém estranhasse, não se importava. Sua nova personalidade realmente não ligava para que os outros pensavam.

Até que um dia percebeu que não conseguiria ser desse jeito. Não conseguia disfarçar a dor que dava no peito quando o olhavam e riam, debochando. Pois, então, ele seria diferente.

E mais uma vez tentou...

Só se vestia de preto, fumava cigarros (sempre engasgando com a fumaça), um atrás do outro, mal falava (os fones nos ouvidos não lhe permitiam que a voz alheia lhe alcançasse). Passou a dormir na escola e impressionava quando tirava notas altas.

Mas logo se cansou. Se viu solitário, já que não falava com ninguém. Se sentia sujo enganando as pessoas quando dizia que não estudava em casa. Cuspia sempre que terminava de fumar.

Precisava mudar...

Até que lhe veio uma luz: resolveu ser ator. A cada dia uma nova personalidade. Nunca se cansava, as coisas nunca caiam na rotina. Um dia era pobre, apaixonado por uma rica; noutro, era rico e mau. Nunca chegou a ser galã, mas era sempre desejado, sempre concorrido, sempre o centro da história.

Até que um dia os holofotes o cegou, precisava fugir, precisava ser normal outra vez.

A partir daquele dia, ele começou a trabalhar (como todos), a ter amigos (como todos), a ver o final da novela como todos, a não sair por falta de dinheiro (como todos), a reclamar do governo (como todos), a... enfim, viver como todos.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Eu tenho uma teoria: a do branco

Eu tenho uma teoria: a do branco

Faz dias que tento escrever alguma coisa, mas é tudo em vão. Abro o caderno ou o Word e nada sai; tirei o mp3 dos ouvidos para poder ouvir ou perceber nas pessoas algo interessante com a qual eu possa dividir com você; passo um bom tempo deixando o vento me descabelar enquanto penso e penso... Nada.

De repente mil idéias surgem, chego em casa animada, estalo os dedos, me ponho a digitar e, quando percebo, as letras “m”, “n” e “o” não estão em seus devidos lugares. Algumas palavras estão unidas, se recusando a se separar mesmo que eu espaque a barra de espaço. Ótimo — o teclado foi para o beleléu.

Mais uma vez me vejo desesperada, mas não vencida. Fiz vários esboços mentais de textos que alguma hora me poria a passar para o Blog — textos estes que iam de reflexões sobre comerciais da TV Globo que me deixam “deprimida” até o vexame que o ‘ex-capa-da-Caras-e-atual-capa-da-Quem-e-afins’ está passando e que já passou do ridículo. Foi aí que bolei minha teoria:

Dia desses, nos pensamentos que antecedem o 'cair no sono', percebi, finalmente, que não ter o que escrever é, na realidade, ter inúmeras coisas a se dizer e não saber se decidir sobre qual será o texto da vez.

Exemplificando de outra forma: recorte aquela roda das cores (das aulas de Física) com a qual Newton provou que a cor branca se forma a partir da presença de todas as cores e, agora, cole da seguinte maneira:

(Clique na figura para melhor vizualização) Ao girar esta roda, todos os assuntos se embaralham e não se tem nada para falar sobre. Se cada assunto fosse uma cor, daria branco.

Logo, a expressão ‘deu branco’ não é exatamente um vazio mental momentâneo e, sim, várias informações juntas tentando ganhar espaço ao mesmo tempo, gerando um engarrafamento intelectual.

Capisci? Comentários a fim de aperfeiçoar a idéia (ou apenas para opinar) serão muito bem vindos. Obrigada.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Um ano, cara!

Um ano, cara!

Olha, certo dia, minha ex-professora de Português (Glorinha) pediu para que fizéssemos uma narração — era um exercício para casa. Assim o fiz e entreguei. Na aula seguinte, ela não apenas leu minha história de três páginas, como fez comentários extensos sobre o mesmo. A partir daquele dia descobri que tinha um talento — ela me convenceu disso. Logo... Bem, você pode culpá-la ou parabenizá-la. Eu, particularmente, agradeço. Não sei se estaria aqui comemorando um ano de blog se não fosse por ela.

Este não foi o primeiro blog que tive. Na realidade, tive tantos que não lembro do endereço ou nome de cada um, só sei que a maioria não sobreviveu por mais de três ou quatro meses. Quando o movimento dos blogueiros veio à tona, as pessoas levaram o nome “diário virtual” a sério demais e o que se lia era apenas um festival de blogs à la Seu Creysson e de Rebeldes sem Calça; o lema “Sou melhor do que as pessoas pensam, pior do que elas imaginam; críticas não me abalam; elogios não me iludem, sou o que sou e não o que falam; vivo o presente, penso no futuro e dane-se o passado!” era usado exaustivamente por meio de glitters rosas piscando. Por não ser popular e não ter uma vida badalada, abandonei a escrita e passei a me ocupar com o HTML para fazer templates.

O Algo do Tipo nasceu muito tempo depois dessa época, mais precisamente quando percebi que não podia continuar a escrever trechos em pedaços de papéis que logo se perdiam; além disso, a minha memória já estava ficando cheia de idéias que nunca eram passadas para o papel; foi aí que um blog para abrigar todo meu lixo mental se fez necessário — e daí a história do nome: como não sabia como definir o que viria pela frente, usei uma fala muito costumeira na minha vida ao contar um causo: algo do tipo.

Não sei como exatamente eu comecei a passar o endereço para as pessoas ‘darem uma olhada’. O que sei é que a primeira a comentar foi a Ana Rita, de São Paulo — talvez, no aniversário de segundo ano, eu faça uma entrevista com ela perguntando como foi ter acessado o blog pela primeira vez. A segunda coisa que também sei é que não pensava que teria um público fixo, aliás, nem pensava que fosse ter um público. A verdade é que não esperava nem que minha mãe fosse ler alguma coisa escrita aqui. Por isso, a cada um que aqui entrou, comentou ou leu (principalmente), muito obrigada. Cada um dos comentários deixados aqui ou no meu scrapbook, e-mail ou MSN colaboraram em muito para que não deixasse de escrever. Então... Bem, você pode se culpar ou se parabenizar. Eu, ao menos, digo: muito obrigada e rumo ao 2º ano!

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

A Velha e o Galo

A Velha e o Galo.

Não sei o que as pessoas vêem em mim. Não sei mesmo. Dia desses, no mercado, enquanto enfrentava uma fila infinita para pesar alguma coisa, uma mulher chegou ao meu lado quase me atropelando e disse em um tom quase desesperado:

— Eu queria galo, mas só tem galinha! Você sabe onde tem galo? O moço disse que não tem mais nada!

Tive medo, sério. E mal tive tempo de responder, ela me fez cambalear quando saiu em direção ao balcão de frios. De certa forma me senti agradecida, o que eu falaria para aquela mulher atônita por causa de um galo? Então continuei naquela fila, abrindo espaço para um e outro que resolveu passar por onde eu estava mal pedindo licença. Mais uma vez pergunto: o que esse povo vê em mim? Só sei que só tinham duas pessoas na minha frente quando a fita da máquina resolveu acabar. Rolei os olhos. Olhei para os lados, bati com o pé diversas vezes contra o chão um tanto impaciente, talvez até irritando outra pessoa, quando vi a tal mulher vindo na minha direção outra vez. Rapidamente olhei para um lugar qualquer, tentando disfarçar. De nada adiantou. Meu perfume Gardenal nº 100 estava forte, a senhora se sentiu atraída e logo se postou perto do meu ombro, anunciando sua presença. Quando a olhei, notei que carregava uma embalagem feia, feia, feia de um congelado qualquer.

— Achei um frango — ela me contou, mostrando a embalagem —, o moço disse que não tinha mais galos, só galinhas, mas achei um frango!

— Ele mentiu para você, então — falei, mas duvido que ela tenha me ouvido. A mulher parecia mesmo transtornada com a história de galos, galinhas e frangos.

O olhar dela estava totalmente perdido entre as pessoas presentes enquanto murmurava sobre a conquista de ter achado um frango no meio de tantas galinhas e de ter provado para si que ela era capaz de encontrá-lo. Até que parou de súbito.

— Frango e galo é a mesma coisa?

Não sei se a pergunta foi direcionada para alguém em particular, ela parecia mesmo estar com os olhos focados em algo que ninguém mais via. Olhei para o moço que pesava as coisas e ele riu antes de falar com a Doida do Galo — como mais tarde a batizei.

— O galo acabou, senhora, mas deixe eu pesar isso pra você.

Ele então pesou e devolveu a sacola para ela que foi embora feliz — ou, vai saber, indignada pela falta de galos.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Algo do tipo.

Semana passada, realizei um sonho de uma romântica escritora que a tudo romantiza: fui a um antiquário aqui perto e comprei uma máquina de escrever. Escolhi a mais capenga e o vendedor pareceu feliz em despachar logo aquele caco velho quando a envolveu num jornal (?), colocou dentro de várias grandes sacolas forradas por outras grandes sacolas e me entregou. Ia perguntar sobre garantia, mas achei que seria perda de tempo. Minha coluna meio torta e o suor brotando debaixo do meu cabelo, carreguei-a pela rua. Ô coisinha pesada, viu? Passei na papelaria para comprar tinta e papéis e canetas, várias delas. Disse à moça do balcão que não precisava de outra sacola. Segui adiante. Na esquina de casa uma padaria. Parei. Comprei um maço de “Um raro prazer”, pó de café, refrigerante, vodka e biscoitos. Dessa vez dividi o peso. Segui. A próxima e última parada seria apenas em casa.

Peguei minha máquina de escrever, capenga, tão velha quanto eu, e coloquei em cima da mesa de madeira. Ajeitei-a de modo imperfeito. Demorou um pouco até que eu pudesse atingir o torto-sutil perfeito, que era minha meta. Fui na cozinha e comecei a preparar o café. Enquanto ficava pronto, fui cuidar do resto. Peguei copos de geléia e extratos de tomate, acendi vários cigarros e os deixei queimando para que as cinzas caíssem dentro dos copos. Abri os blocos de papel, coloquei um ou outro na máquina e comecei a digitar coisas incoerentes, como esse texto. E daí tirava furiosamente a folha e fazia bolas de papel que jogava por ali; alguns na cesta de lixo, outros não. Fiz isso várias e várias vezes. Abri a garrafa de vodka e a empurrei com a ponta do dedo, propositalmente. O líquido escorreu pela madeira por uns segundos, quase um minuto — parece pouco, mas foi quase a garrafa inteira, filho — e depois fui lá, coloquei a garrafa em pé e coloquei folhas de papel por cima. A essa altura os cigarros eram apenas cinzas, amassei as guimbas contra o vidro e em seguida as deixei deitadas no fundo do copo. Achei que não era suficiente, definitivamente um maço não era o bastante.

Peguei o elevador e comecei a bater nas portas. “Oi, você é fumante? Não? Desculpe.”; “Oi, você é fumante? É? Você pode me dar caixas vazias? Espero sim, obrigado.” Quando achei que vários olhares confusos e que uma semana de comentários sobre minha pessoa já era bom, voltei ao meu apartamento com mais ou menos seis maços vazios. Coloquei dois em cima da mesa, mais três dentro do cesto e o resto no chão. Parecia bom. Voltei minha atenção para o café que não beberia. Peguei várias pequenas xícaras dentro do armário e dois pratos grandes. Espalhei farelo em um dos pratos, tive que esfregar um biscoito no outro para ter o maior número de farelo possível. Daí peguei o outro prato e coloquei por cima — nesse eu coloquei os biscoitos meio inteiros, meio defeituosos. Espalhei um pouco de farelo pela mesa também. Peguei a jarra de café e comecei a dividir o conteúdo entre as xícaras. Deixei-as lá, descansando, por uma hora ou um pouco mais. Derramei um pouco de café nos pratinhos, deixando-os meio manchados. Derramei também em cima da mesa e em alguns papéis. O cheiro da bebida impregnou o recinto.

Corri pela casa. Espalhei livros novos, livros antigos, dicionários de línguas que nem falava por tudo que era canto, principalmente na mesa e em volta dela. Fiz uma pequena pilha ao lado do sofá com um dos copo-cinzeros (?) para fazer companhia. Coloquei copo-cinzeros no banheiro também. Eu sei que é estranho. Espalhei jornais e discos de vinil também. Dei uma olhada e parecia bom. Só faltava mesmo uma coisa. Peguei mais copos de extrato de tomate e os virei de cabeça para baixo, deixando a base para cima. Acendi velas e as prendi no fundo dos copos. Deixei-as queimar por um bom tempo, algumas chegaram a ficar pela metade antes de apagá-las. As espalhei por lugares estratégicos. Coloquei duas na mesa, perto da máquina de escrever.

No final, peguei um copo de refrigerante e comi um biscoito enquanto contemplava o que tinha feito com meu apartamento. Pronto. Agora convenço qualquer um de que aqui mora uma escritora.

Qualquer um, menos eu.


Rebecca Albino
FEV/08


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

Dos 18.

Dos 18.

Desde que criei este blog, venho postando quase que religiosamente todos os meses. Em alguns, posto logo nos primeiros dias; em outros, posto no limite do meu tempo, quase levando um tombo no pequeno espaço entre um mês e outro. O que me incomoda é o fato de não ter nenhum texto no mês de Julho. Então, numa noite calorenta dessas, enquanto fitava o teto do meu quarto, esbocei um texto na minha mente e dormi.

Em Julho aconteceram eventos importantes, o que me surpreende (adoro essa palavra, adoro a repetição da letra “e” nela, mas enfim...) ainda mais o fato de não ter escrito uma única linha. Por exemplo, tive férias em Julho! Nos últimos dias que antecedem o término das aulas, costumava entrar no segundo tempo e depois só ia lá marcar um X na letra “a” ou “d”, algumas “c” e outras, mas poucas vezes, na “b”.¹

Também foi em Julho (05/07, meu aniversário) a Season Finale da sétima temporada de C.S.I. pela TV a Cabo no Brasil — eu assisto com paridade pela CBS, baixando os episódios pela Internet. Mas isso é feio, muito feio! Reparou que todas as pessoas públicas só viram Tropa de Elite quando estreou no cinema? Fascinante essas pessoas!

E, claro, como deixei escapar acima, foi meu aniversário! Não vou dizer “finalmente, 18 anos” porque não vejo “finalmente” nenhum, não foi algo que eu esperava ansiosamente. E acho que, de certa forma, poucas pessoas hoje em dia esperam, imagino até que algumas queiram evitar a inevitável chegada dos 18.

A maioria das coisas que, teoricamente, só podem ser feitas aos 18 anos, geralmente é feita bem antes, o que corta qualquer ansiedade e sensação de “liberdade” que “os 18 anos” costumava oferecer, exemplo: beber e comprar bebidas; fumar e comprar cigarros; ir para boates; viajar sozinho; dirigir; namoro e sexo, etc.

[O “crescer” se perdeu, salvo apenas por alguns. As crianças e jovens em geral se atiram na busca da vida adulta rápido demais, não há mais tanta evolução; há mais um conjunto de fórmulas prontas que seguem cegamente, crendo que é gente. Já outros jovens são atirados na vida adulta precocemente, por diversos motivos.

Algumas meninas e alguns meninos não têm mais a aparência de serem meninas e meninos. Eles envelhecem, murcham ou se exibem excessivamente, se oferecendo sem nem saber que está e quando se dá conta, se é que se dão conta, já é muito tarde e não tem mais como voltar atrás. Perdeu-se.]

A parte mais comum de todos os aniversários é quando as pessoas te cumprimentam, “parabéns” pra lá, “feliz aniversário” para cá e por aí vai. Nos 18 anos a coisa é um pouco diferente. Parece que todos dizem a mesma coisa:

— Ihh, agora pode ser presa, hein!

— Eu tenho cara de trombadinha, por acaso?

É uma resposta meio mal humorada, eu sei, mas se você parar para pensar não faz sentido nenhum alguém te alertar sobre sistemas penitenciários, a não ser que sejas um pivete. Sem dizer que todo mundo dizendo a mesma coisa é um saco. Será que não têm outra piadinha mais infame?

Quem vos fala faz parte do grupo de precoces que fizeram a maior parte das coisas teoricamente proibidas para menores ainda sendo menor: já dirigi, já bebi e sempre tive Orkut. Pouca coisa mudou desde que fiz 18 — a não ser que agora posso falar: “quer ver minha identidade?” quando olham, desconfiados, para minha cara de criança quando quero comprar algo. Cresci numa casa onde ainda se diz que sem dinheiro próprio, não há liberdade. E com dinheiro próprio, mas ainda morando com mãe, também não há liberdade. Como estou dentro dessas condições, logo não tenho liberdade.


Rebecca Albino

05/01/2008


¹ N.A.: marcar “b” é elegante, “c” sempre parece a certa, quase ninguém coloca a resposta certa na “a” para não parece repentino demais e a “d” é atraente, pois o professor fez você ler aquilo tudo para a resposta estar lá no final. Não é a toa que eu faço prova de trás pra frente — a não ser pelo cabeçalho, claro.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS