Como todos
Era uma vez um sujeito que, de muitas idéias que tinha, um dia resolveu se reinventar. Pegou uma parte dali, outra de lá. Disse que não mais ia ficar quieto esperando que os outros o percebesse — a partir daquela data seria diferente. Falaria com todos, os cumprimentaria e se alguém estranhasse, não se importava. Sua nova personalidade realmente não ligava para que os outros pensavam.
Até que um dia percebeu que não conseguiria ser desse jeito. Não conseguia disfarçar a dor que dava no peito quando o olhavam e riam, debochando. Pois, então, ele seria diferente.
E mais uma vez tentou...
Só se vestia de preto, fumava cigarros (sempre engasgando com a fumaça), um atrás do outro, mal falava (os fones nos ouvidos não lhe permitiam que a voz alheia lhe alcançasse). Passou a dormir na escola e impressionava quando tirava notas altas.
Mas logo se cansou. Se viu solitário, já que não falava com ninguém. Se sentia sujo enganando as pessoas quando dizia que não estudava em casa. Cuspia sempre que terminava de fumar.
Precisava mudar...
Até que lhe veio uma luz: resolveu ser ator. A cada dia uma nova personalidade. Nunca se cansava, as coisas nunca caiam na rotina. Um dia era pobre, apaixonado por uma rica; noutro, era rico e mau. Nunca chegou a ser galã, mas era sempre desejado, sempre concorrido, sempre o centro da história.
Até que um dia os holofotes o cegou, precisava fugir, precisava ser normal outra vez.
A partir daquele dia, ele começou a trabalhar (como todos), a ter amigos (como todos), a ver o final da novela como todos, a não sair por falta de dinheiro (como todos), a reclamar do governo (como todos), a... enfim, viver como todos.
julho 09, 2008
Enfim, o sujeito se sujeitou a ser como todos os outros, a não ser por um (importante) detalhe: é o sujeito do texto da Rebecca!
Parabéns por mais um texto
bem escrito e que não lhe
faltem idéias para outros
tantos.
Beijo.
julho 12, 2008
Poderia ter sido um palhaço. Há tantas cores...Logo, há vida-alegria!
outubro 03, 2010
necessario verificar:)