Dos 18.

Dos 18.

Desde que criei este blog, venho postando quase que religiosamente todos os meses. Em alguns, posto logo nos primeiros dias; em outros, posto no limite do meu tempo, quase levando um tombo no pequeno espaço entre um mês e outro. O que me incomoda é o fato de não ter nenhum texto no mês de Julho. Então, numa noite calorenta dessas, enquanto fitava o teto do meu quarto, esbocei um texto na minha mente e dormi.

Em Julho aconteceram eventos importantes, o que me surpreende (adoro essa palavra, adoro a repetição da letra “e” nela, mas enfim...) ainda mais o fato de não ter escrito uma única linha. Por exemplo, tive férias em Julho! Nos últimos dias que antecedem o término das aulas, costumava entrar no segundo tempo e depois só ia lá marcar um X na letra “a” ou “d”, algumas “c” e outras, mas poucas vezes, na “b”.¹

Também foi em Julho (05/07, meu aniversário) a Season Finale da sétima temporada de C.S.I. pela TV a Cabo no Brasil — eu assisto com paridade pela CBS, baixando os episódios pela Internet. Mas isso é feio, muito feio! Reparou que todas as pessoas públicas só viram Tropa de Elite quando estreou no cinema? Fascinante essas pessoas!

E, claro, como deixei escapar acima, foi meu aniversário! Não vou dizer “finalmente, 18 anos” porque não vejo “finalmente” nenhum, não foi algo que eu esperava ansiosamente. E acho que, de certa forma, poucas pessoas hoje em dia esperam, imagino até que algumas queiram evitar a inevitável chegada dos 18.

A maioria das coisas que, teoricamente, só podem ser feitas aos 18 anos, geralmente é feita bem antes, o que corta qualquer ansiedade e sensação de “liberdade” que “os 18 anos” costumava oferecer, exemplo: beber e comprar bebidas; fumar e comprar cigarros; ir para boates; viajar sozinho; dirigir; namoro e sexo, etc.

[O “crescer” se perdeu, salvo apenas por alguns. As crianças e jovens em geral se atiram na busca da vida adulta rápido demais, não há mais tanta evolução; há mais um conjunto de fórmulas prontas que seguem cegamente, crendo que é gente. Já outros jovens são atirados na vida adulta precocemente, por diversos motivos.

Algumas meninas e alguns meninos não têm mais a aparência de serem meninas e meninos. Eles envelhecem, murcham ou se exibem excessivamente, se oferecendo sem nem saber que está e quando se dá conta, se é que se dão conta, já é muito tarde e não tem mais como voltar atrás. Perdeu-se.]

A parte mais comum de todos os aniversários é quando as pessoas te cumprimentam, “parabéns” pra lá, “feliz aniversário” para cá e por aí vai. Nos 18 anos a coisa é um pouco diferente. Parece que todos dizem a mesma coisa:

— Ihh, agora pode ser presa, hein!

— Eu tenho cara de trombadinha, por acaso?

É uma resposta meio mal humorada, eu sei, mas se você parar para pensar não faz sentido nenhum alguém te alertar sobre sistemas penitenciários, a não ser que sejas um pivete. Sem dizer que todo mundo dizendo a mesma coisa é um saco. Será que não têm outra piadinha mais infame?

Quem vos fala faz parte do grupo de precoces que fizeram a maior parte das coisas teoricamente proibidas para menores ainda sendo menor: já dirigi, já bebi e sempre tive Orkut. Pouca coisa mudou desde que fiz 18 — a não ser que agora posso falar: “quer ver minha identidade?” quando olham, desconfiados, para minha cara de criança quando quero comprar algo. Cresci numa casa onde ainda se diz que sem dinheiro próprio, não há liberdade. E com dinheiro próprio, mas ainda morando com mãe, também não há liberdade. Como estou dentro dessas condições, logo não tenho liberdade.


Rebecca Albino

05/01/2008


¹ N.A.: marcar “b” é elegante, “c” sempre parece a certa, quase ninguém coloca a resposta certa na “a” para não parece repentino demais e a “d” é atraente, pois o professor fez você ler aquilo tudo para a resposta estar lá no final. Não é a toa que eu faço prova de trás pra frente — a não ser pelo cabeçalho, claro.

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