Algo do tipo.
“Semana passada, realizei um sonho de uma romântica escritora que a tudo romantiza: fui a um antiquário aqui perto e comprei uma máquina de escrever. Escolhi a mais capenga e o vendedor pareceu feliz em despachar logo aquele caco velho quando a envolveu num jornal (?), colocou dentro de várias grandes sacolas forradas por outras grandes sacolas e me entregou. Ia perguntar sobre garantia, mas achei que seria perda de tempo. Minha coluna meio torta e o suor brotando debaixo do meu cabelo, carreguei-a pela rua. Ô coisinha pesada, viu? Passei na papelaria para comprar tinta e papéis e canetas, várias delas. Disse à moça do balcão que não precisava de outra sacola. Segui adiante. Na esquina de casa uma padaria. Parei. Comprei um maço de “Um raro prazer”, pó de café, refrigerante, vodka e biscoitos. Dessa vez dividi o peso. Segui. A próxima e última parada seria apenas em casa.
Peguei minha máquina de escrever, capenga, tão velha quanto eu, e coloquei em cima da mesa de madeira. Ajeitei-a de modo imperfeito. Demorou um pouco até que eu pudesse atingir o torto-sutil perfeito, que era minha meta. Fui na cozinha e comecei a preparar o café. Enquanto ficava pronto, fui cuidar do resto. Peguei copos de geléia e extratos de tomate, acendi vários cigarros e os deixei queimando para que as cinzas caíssem dentro dos copos. Abri os blocos de papel, coloquei um ou outro na máquina e comecei a digitar coisas incoerentes, como esse texto. E daí tirava furiosamente a folha e fazia bolas de papel que jogava por ali; alguns na cesta de lixo, outros não. Fiz isso várias e várias vezes. Abri a garrafa de vodka e a empurrei com a ponta do dedo, propositalmente. O líquido escorreu pela madeira por uns segundos, quase um minuto — parece pouco, mas foi quase a garrafa inteira, filho — e depois fui lá, coloquei a garrafa em pé e coloquei folhas de papel por cima. A essa altura os cigarros eram apenas cinzas, amassei as guimbas contra o vidro e em seguida as deixei deitadas no fundo do copo. Achei que não era suficiente, definitivamente um maço não era o bastante.
Peguei o elevador e comecei a bater nas portas. “Oi, você é fumante? Não? Desculpe.”; “Oi, você é fumante? É? Você pode me dar caixas vazias? Espero sim, obrigado.” Quando achei que vários olhares confusos e que uma semana de comentários sobre minha pessoa já era bom, voltei ao meu apartamento com mais ou menos seis maços vazios. Coloquei dois em cima da mesa, mais três dentro do cesto e o resto no chão. Parecia bom. Voltei minha atenção para o café que não beberia. Peguei várias pequenas xícaras dentro do armário e dois pratos grandes. Espalhei farelo em um dos pratos, tive que esfregar um biscoito no outro para ter o maior número de farelo possível. Daí peguei o outro prato e coloquei por cima — nesse eu coloquei os biscoitos meio inteiros, meio defeituosos. Espalhei um pouco de farelo pela mesa também. Peguei a jarra de café e comecei a dividir o conteúdo entre as xícaras. Deixei-as lá, descansando, por uma hora ou um pouco mais. Derramei um pouco de café nos pratinhos, deixando-os meio manchados. Derramei também em cima da mesa e em alguns papéis. O cheiro da bebida impregnou o recinto.
Corri pela casa. Espalhei livros novos, livros antigos, dicionários de línguas que nem falava por tudo que era canto, principalmente na mesa e em volta dela. Fiz uma pequena pilha ao lado do sofá com um dos copo-cinzeros (?) para fazer companhia. Coloquei copo-cinzeros no banheiro também. Eu sei que é estranho. Espalhei jornais e discos de vinil também. Dei uma olhada e parecia bom. Só faltava mesmo uma coisa. Peguei mais copos de extrato de tomate e os virei de cabeça para baixo, deixando a base para cima. Acendi velas e as prendi no fundo dos copos. Deixei-as queimar por um bom tempo, algumas chegaram a ficar pela metade antes de apagá-las. As espalhei por lugares estratégicos. Coloquei duas na mesa, perto da máquina de escrever.
No final, peguei um copo de refrigerante e comi um biscoito enquanto contemplava o que tinha feito com meu apartamento. Pronto. Agora convenço qualquer um de que aqui mora uma escritora.
Qualquer um, menos eu.”
Rebecca Albino
FEV/08
fevereiro 06, 2008
Eu queria escrever um poema em uma máquina de escrever...
Mas eu não sei datilografar, isso seria muito pouco prático...
E eu adoro lápis...
fevereiro 06, 2008
Muita gente pensa isso de mim as vezes quando entra no quarto de casa...
Não pensam que eu sou escritor,mas pensam que sou... sei lá, algo diferente do meu eu real...
As vezes acho isso curioso, as vezes, chato. Curioso eu fico com a ilusão de realmente ser algo que está na mente dos outros =]
fevereiro 06, 2008
jah pensou em ser escritora ??
=p
fevereiro 06, 2008
OMG
que bagulho incrivel becca =O
serin biixo, bolei cum vc agora!
esperava algo como 'agora conveço que aki mora uma louca' ou coisa do genero, mas vc me pegou. [LOOOL]
sem mais piadas, incrivel msm o texto.
'um raro prazer'
huuum, sei koeh! =x
eh noix mermao, eh noix! xD
eh 'guimbas' q fala? o.O
sempre achei q fossem 'bingas'...
q seja neh.
parabens pelo texto
massa.
mandô.
bjo
fevereiro 07, 2008
voce escreve maravilhosamente bem! ;
fevereiro 07, 2008
ain,ain
queria tentar escrever algo em uma maquina assim,as vezes quando vejo em filme algo tão simples escrito ali parece sair mais bonito no papel,com outros sentidos!
@_@
beijos!!!
fevereiro 07, 2008
anos que não vejo uma máquina de escrever
Belo texto
teh +
fevereiro 07, 2008
Quero morar sozinho para poder transformar minha casa em um mundo só meu, vai ser bem louco e engraçado, quero ver a cara do pessoal que entrar lá.
Gostei muito do texto, deu para viajar em seu mundo, parecendo que era eu que estava vivenciando aquilo.
Passa no meu se puder:
http://vida-bela-opentheeyes.blogspot.com/
fevereiro 08, 2008
já te disse que achei muito bom, né! e tem algo de bandini aí. :D
fevereiro 08, 2008
Incrível... mais tenho que ressaltar um detalhe...pobre vodka!!!rsrs!!! Enfim, brincadeiras a parte adorei o texto, como sempre surpreedente!!!
:D
bjx!
fevereiro 09, 2008
Q demais hein, Nerd.!
Adorei...
Qndo eu era peQuena minha mãe tinha uma máquina - Q por sinal foi eu qm a destruiu.!
Eu ficava brincando com ela, escrevia azul, preto e vermelho...
Nem lembro se sabia realmente escrever, só sei Q brincava muito com ela.
Ela tinha uma maleta propria de plastico claro, meio amarelado, Q lógico EU quebrei tbm.
Nao sei Q fim levou aquela máquina, só sei q eu me divertia escrevendo com elaa.!
Não sei se hoje em dia ainda vende, mas meu avÔ tem uma Q é elétrica, eu axO.! Super demais...
fevereiro 10, 2008
ah que legal !!!! me lembrei da velha máquina de escrever que tinha em casa ................
fevereiro 10, 2008
Rebecca, preciso fazer algumas observações:
Você escreve muitíssimo bem, tem uma escrita limpa e bem formulada. Gosto bastante disso.
O texto é repleto de sentimento, isso comove, nos sentimos em meio à história.
Magnífico blog, deveras.
Beijos
www.lizziepohlmann.com
fevereiro 15, 2008
mto bom seu texto..esta de parabens..
viajei na sua historia :D
bejundaaaaaaaaa
fevereiro 15, 2008
GENIAL!
Adorei...rs
fevereiro 15, 2008
vlw pelos comentários.
Nem li td..
Meu monitor tah mto ruim...
Soh consigo ler alguns tipos de textos... assi,. o layout do teu blog n tah ajudando..
Logo chega o novo..
dahi eu leio, k?
fevereiro 15, 2008
Achei muito legal esse seu texto;
Você escrever belíssimamente bem;]
parabéns, escritora;)
fevereiro 16, 2008
Que jeito delicioso de se escrever, de se ler... envolvente.
Também tenho o sonho de consumo de uma máquina de escrever
Mas claro.. no fim ela seria mais de enfeite do que a usaria..
;D
bjus
fevereiro 16, 2008
Uma loucura graciosa...
rolou um filme aqui na minha cabeça rsrsrs.
Parabéns ai escritora...porque só basta escrever!
fevereiro 16, 2008
Agora que li esse texto...
Vixe..
meu parabéns..
Lembra um pouco Realismo.
Apesar ter pintado na minha kbça um quadro surreal.
fevereiro 17, 2008
Eu, creia, não tenho livros suficientes em casa para fazer uma pilha: repasso tudo o que leio.
Há braços!!
fevereiro 22, 2008
Bem bacana!
Não deu pra parar de ler antes do final.....convenceu,escritora:)